Em plena homenagem global ao "milagreiro" Mandela - o homem que fez o "milagre" de pôr termo, de forma pacífica e negociada, ao desumano regime do apartheid na República da África do Sul ( RAS), é compreesível que tenham ficado para 2º plano as circunstâncias que proporcionaram o inesperado (e feliz) desfecho.
Uma dessas circunstâncias- e não das menores - foi, sem dúvida, o colapso do império colonial português, ali mesmo nas barbas (fronteiras) da RSA .No entanto, deve anotar-se que não se trata apenas de um efeito indirecto, mas de facto muito concreto, na medida em que o exército racista estava empenhado em operações dentro do território angolano, em apoio e reforço da Unita de Jonas Savimbi. Mais ainda em Novembro de 1975, uma poderosa coluna militar sul-africana invadia Angola, atacando em direcção a Luanda com o objectivo de "conquistar" a cidade e assim impedir a proclamação da independência do novo país, marcada para o dia 11 daquele mês. Foram detidos e destroçados no Rio Queve por um destacamento cubano enviado de urgência a pedido do MPLA.
Nos últimos meses de 1987, começa uma segunda invasão sul-africana, a partir da fronteira sul com a Namíbia, com muito maior envergadura e objectivos. O regime do apartheid, o governo do boer Botha, jogava a sua última e desesperada tentativa para resistir aos ventos da história, impor-se como potência regional, garantindo, num primeiro tempo, o domínio da Namíbia e o protectorado do Botswana. Encontraram pela frente, um corpo expedicionárfio cubano que atingiu os 50 mil efectivos, enquadrando várias brigadas das FAPLA angolanas e forças significativas da SWAPO (movimento para a independência da Namíbia). Durante todo o ano de 1988, do Cunene a Cubango, travaram-se combates e batalhas renhidos, incluindo meios blindados pesados, aviões de combate, artilharia sofisticada, etc. A batalha do Cuito Cuanavale tornou-se lendária. Foi considerada uma operação bélica comparável a algumas da Segunda Guerra Mundial.
A guerra terminou por intervenção "conciliatória" internacional. A Namíbia de Sam Nujona (SWAPO) ganhava direito à independência. Os sul-africanos retiravam, também do Botswana. Os cubanos abandonavam Angola. O apartheid, a supremacia branca, o orgulho boer ficavam feridos de morte. Cuba e os cubanos ficavam credores da gratidão de todos os povos que lutam pela libertação contra toda a espécie de tiranias. Soava a hora, a CIRCUNSTÂNCIA para Mandela conduzir o ANC ao poder, libertando o povo negro da África do Sul de grilhetas seculares.
E nós, Portugal e os portugueses? Creio que podemos levar a nosso crédito a Revolução de Abril, que levou a cabo a ,libertação e a independência dos povos africanos colonizados. Creio que nós, os que se bateram para que a Revolução de Abril não fosse atraiçoada antes de 11 de Novembro (independência da Republica Popular de Angola), podem sentir que, de algum modo, concretamente, concorreram para favorecer qu a circunstância de Mandela.
Em 13 de Dezembro 2013
Fez) J. Varela Gomes